Artigos Aldo Mattos

Sistema de gerenciamento de armazéns

Adicionalmente ao arranjo do canteiro, que é o estudo da disposição espacial dos diversos elementos do canteiro ? acessos, edificações provisórias, locais de armazenamento, etc. ?, a equipe gestora da obra deve também pensar na logística da construção.

Por logística entende-se o processo de planejamento, implementação e controle do fluxo eficiente e economicamente eficaz de matérias-primas, estoque em processo, produtos acabados e informações relativas desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o propósito de atender às exigências do cliente (definição do CSCMP – Council of Supply Chain Management Professionals).

As atividades desse ramo da gestão, portanto, estão voltadas para o planejamento do recebimento, armazenagem, circulação e distribuição de produtos. O objetivo da logística é conseguir criar mecanismos para entregar os produtos no destino final no tempo mais curto possível, reduzindo os custos. Para isso, especialistas na área estudam rotas de circulação, meios de transportes, locais e métodos de armazenagem, entre outros aspectos. Pode-se dizer que logística é a aplicação pura da engenharia de produção à construção civil. A palavra que dá origem à palavra já diz tudo: lógica.

A logística é tão importante em uma fábrica quanto em uma obra, apesar do canteiro de obras funcionar de modo diferente de uma fábrica. Enquanto nesta o operário é fixo e o material é móvel (linha de montagem), na construção é justamente o oposto: o operário move-se constantemente, ficando o produto final fixo no lugar.

Sistema de gerenciamento de armazém

No bojo deste assunto, nesta semana eu gostaria de abordar com mais profundidade o chamado sistema de gerenciamento de armazém (ou warehouse management system, WMS), enfocando o que acontece da porta da obra para dentro.

Foi pensando nisso tudo que o WMS surgiu. Trata-se de uma tecnologia utilizada para integrar e processar as informações de localização das mercadorias, controlar a utilização da capacidade de mão de obra, planejar detalhada e minuciosamente os níveis de estoque, gerenciar processos de inventário, valendo-se de códigos de barras (ou RFID) e coletores de dados. Vejamos a estrutura do WMS aplicado à construção civil.

Recebimento

Na primeira fase do WMS, a tecnologia é aplicada para o recebimento dos caminhões. A primeira providência é gerenciar o horário das entregas. Estranha-me notar que, em muitas obras, os caminhões chegam quase ao mesmo tempo. Com o WBS, controla-se a entrega dos diversos fornecedores. É óbvio que isso não elimina filas, pois há engarrafamentos e atrasos, mas já é um avanço.

Outro aspecto do recebimento é a descarga. A depender da localização da obra e da geometria do terreno, os métodos podem variar. Entretanto, prefira sempre trabalhar com páletes. A padronização dimensional dos páletes otimiza muito a descarga e o armazenamento. Seu manuseio com uma empilhadeira é fácil e prático (o aluguel de uma empilhadeira pode ter o mesmo custo de três serventes, faça as contas!). Além disso, em muitas obras a empilhadeira descarrega um caminhão de 12 páletes em muito menos tempo do que uma grua.

Em seguida, o WMS usa a chamada conferência cega (não confundir com conferência às cegas…). Enquanto nas obras normalmente quem recebe a mercadoria confere a nota fiscal com o conteúdo do caminhão, na conferência cega o conferente (que pode ser o próprio operador da empilhadeira) digita no coletor de dados a quantidade de itens recebidos. O sistema compara com o pedido e, havendo divergência, a liberação precisa da autorização de um gestor superior. Somente se a descarga for liberada o controle financeiro é acionado.

Ainda nessa etapa, o conferente ou outra pessoa aplica etiquetas com código de barras aos paletes.


Armazenamento

Na segunda fase do WMS, a tecnologia é aplicada para localização precisa de cada produto no almoxarifado. Antes, há que se fazer um projeto de almoxarifado, com ruas (alas) bem definidas e numeradas. Pelo coletor de dados, o pessoal sabe exatamente onde estocar cada produto, e o sistema computa aquilo que está estocado (origem, data, local, quantidade).

Nessa gestão do almoxarifado é importante verificar quais dentre os paletes deve ser o primeiro a ser utilizado na obra, pois há questões ligadas a prazo de validade. O WMS também ajuda a monitorar isso. Há produtos que devem obedecer à regra FIFO (o primeiro que entrou é o primeiro a sair) e outros à regra FEFO (o primeiro a expirar é o primeiro a sair):

Por exemplo, no caso de cimento, se a obra recebeu sacos de cimento de uma obra vizinha, é preciso verificar as datas de expiração. Quem estiver mais perto de prazo de validade, tem prioridade para sair primeiro (FEFO).

Expedição

Na terceira fase do WMS, a tecnologia é aplicada para a remessa de produtos do almoxarifado para as frentes de produção. Só pode sair do estoque aquilo que foi pedido. Operacionalmente, o operário “aperta a pistola” no código de barras do produto e depois faz o mesmo no local de entrega (andar, pilar, cômodo, torre). Isso cria uma vinculação entre origem e destino de cada material, permitindo gerenciar perdas por andar, por equipe, etc.

Atenção deve ser dada à questão de lotes de cerâmica, por exemplo. Como cada fornada do fabricante produz uma tonalidade diferente, o WMS ajuda a garantir que uma determinada área receba produtos do mesmo lote.

 

Inventário

Na quarta fase do WMS, a tecnologia é aplicada para o controle do estoque (inventário). De acordo com as premissas da equipe gestora ou da política da empresa, a cada intervalo de tempo é preciso fazer um balanço do que entrou, saiu ou ainda está armazenado. Essa conta tem que fechar.

Na prática, o que as construtoras fazem é definir, a partir da curva ABC de insumos, quais os produtos que devem ser inventariados mensalmente, semestralmente ou anualmente. É tudo uma questão de gerenciamento.