Lucro no papel, problema no caixa? Como garantir a saúde financeira da sua obra
Você já deve ter ouvido falar que “uma construtora pode ir à falência mesmo com lucro no papel”. Pois é: falta de liquidez em determinados meses pode colocar a perder todo um planejamento que parecia infalível. Neste artigo, Inclusive, nesta última terça-feira, fiz uma Você já deve ter ouvido falar que “uma construtora pode ir à falência mesmo com lucro no papel”. Pois é, a falta de liquidez em determinados meses pode colocar a perder um planejamento que, no papel, parecia infalível.
Nesta última terça-feira, fiz uma live dedicada ao tema, abordando desafios comuns e estratégias para manter a liquidez durante a execução. No artigo de hoje, aprofundo ainda mais o assunto, destrinchando como o fluxo de caixa em obras ajuda a equilibrar pagamentos, recebimentos e prazos de execução. De quebra, apresento algumas das Práticas Recomendadas da AACE (Associação Internacional para o Desenvolvimento da Engenharia de Custos), trazendo exemplos práticos e soluções para evitar desequilíbrios financeiros que podem comprometer o andamento do projeto.
Vamos em frente!
Inicialmente…
Quando se fala em gerenciamento de obras, a maioria dos profissionais pensa imediatamente no orçamento total, nos custos diretos, no cronograma físico e na margem de lucro. Tudo isso é, de fato, essencial, mas não é suficiente para garantir que o caixa se mantenha saudável durante a execução. O motivo é simples: na prática, o dinheiro não sai nem entra exatamente de acordo com os cálculos teóricos.
A construção civil tem dois fatores que frequentemente geram desequilíbrios financeiros temporários:
- O fator tempo, pois as etapas não ocorrem de modo linear e podem concentrar grandes desembolsos em certos meses;
- A forma como as medições são pagas, já que o construtor quase sempre precisa bancar materiais e mão de obra antes de receber.
Por isso, o fluxo de caixa é tão importante: ele mostra, mês a mês, se haverá sobra ou falta de recursos para cumprir as obrigações assumidas.
Orçamento e fluxo de caixa: por que não são a mesma coisa
Uma confusão comum é achar que orçamento e fluxo de caixa significam a mesma coisa. O orçamento indica o custo total, a soma dos insumos, a estimativa de despesas indiretas e a possível rentabilidade ao final. Já o fluxo de caixa é mais específico: mostra em que momento cada pagamento acontece e quando a construtora recebe pelas medições aprovadas.
- Orçamento:
- Fluxo de caixa:
Se uma obra tem 10% de lucro final previsto, mas grandes desembolsos se concentram nos dois primeiros meses e os pagamentos do cliente só começam a cair no terceiro, há um buraco temporário que pode exigir capital de giro ou negociação de prazos com fornecedores.
Regime de competência versus regime de caixa: quem paga a conta?
O essencial neste tópico é entender a diferença entre regime de competência e regime de caixa, que costuma gerar dúvidas, mas é fundamental para compreender o fluxo de caixa, não apenas pela diferença entre os termos, mas com um exemplo prático com valores ilustrativos:
- Regime de competência
- Regime de caixa
Exemplo 1
- Esquadrias em um prédio de 10 andares: O construtor comprou esquadrias por 100 “dinheiros” (valor meramente ilustrativo, pois esquadrias reais certamente ultrapassariam essa quantia, certo?!). Já foram construídos 2 andares, mas não houve pagamento à fornecedora. Qual o custo até o momento?
Mais exemplos reais de por que o fluxo de caixa é decisivo
Além da divergência entre competência e caixa, existem inúmeras situações em que o fluxo de caixa faz toda a diferença. Vamos ver mais dois exemplos (com valores, repito, meramente ilustrativos):
Exemplo 2
- Obra com custo total de 500 e preço de 600: Suponha que uma construtora tenha orçado a obra em 500 “dinheiros” (entre mão de obra, materiais e custos indiretos) e fechado contrato de 600, garantindo 100 de lucro no final. Tudo parece bom, certo?
Entretanto, se a maior parte dos custos (digamos 300 ou 400 “dinheiros”) for desembolsada logo nos dois primeiros meses, enquanto o cliente só começa a pagar no terceiro, a construtora pode sofrer um grande déficit de caixa no início. Sem uma reserva ou uma negociação de prazos, o projeto corre o risco de parar pela falta de liquidez momentânea, mesmo tendo lucro garantido ao término.
Exemplo 3
- Aquisição de um lote de aço para estruturas: Imagine que a construtora precise comprar 200 “dinheiros” em aço logo na primeira quinzena, pois boa parte da estrutura será erguida no início da obra. Se o pagamento desse lote for à vista, mas a medição equivalente for paga pelo cliente só depois de 30 ou 45 dias, a empresa fica temporariamente sem caixa.
Essa compra pode até ser a mais vantajosa em termos de custo unitário, mas, sem planejamento de fluxo, o saldo bancário fica em perigo. E, se houver mais de uma obra simultaneamente, a dor de cabeça se multiplica. Como se nota, o problema nem sempre é a “falta de lucro” e sim a “falta de dinheiro no momento em que ele é necessário”. Por isso, planejar o fluxo de caixa ajuda a evitar apertos e a manter a obra em pleno funcionamento.
Práticas recomendadas da AACE: o que elas dizem sobre fluxo de caixa
A AACE é uma referência internacional em padrões de engenharia de custos, cronograma e riscos. Em suas Práticas Recomendadas, várias apontam a relevância de alinhar custos e prazos para evitar desequilíbrios de caixa:
- 10S-90 (Cost Engineering Terminology): Define termos fundamentais e evita confusões, distinguindo claramente o que é “orçamento” e o que é “fluxo de caixa”.
- 18R-97 (Cost Estimate Classification System): Detalha níveis de precisão para estimativas de custo. Quanto mais confiáveis forem essas estimativas, menor o risco de desvios no fluxo de caixa.
- 57R-09 (Integrated Cost and Schedule Risk Analysis): Enfatiza a análise conjunta de riscos de custos e prazos. Na prática, significa prever cenários em que o fluxo de caixa se complica, seja por atrasos de medição ou disparada de preços.
- 60R-10 (Developing the Project Controls Plan): Orienta a criação de um plano de controle que inclua projeção de desembolsos e recebimentos, correlacionando o cronograma físico com etapas de pagamento e execução.
Esses documentos ressaltam que planejar custos e cronograma sem considerar o fluxo financeiro pode resultar em subestimativas perigosas de capital necessário para manter a obra ativa. Ah, aproveitando o “gancho”, deixo aqui um recado importante: filiem-se à AACE! Sendo membro, você terá acesso a um vasto acervo técnico com milhares de artigos, Práticas Recomendadas (como essas que citei – e em breve teremos esse conteúdo totalmente em português), grupos de trabalho e uma rede de profissionais experientes e capacitados, que compartilham conhecimento de alto nível em gerenciamento de custos, riscos e planejamento de obras. Vale a pena fazer parte dessa comunidade e se aprofundar ainda mais no que há de melhor em Engenharia de Custos.
Dicas para manter a saúde financeira da sua obra
Vejamos algumas ações que ajudam a evitar desequilíbrios:
- Negociar prazos com fornecedores: se você tiver credibilidade no mercado, peça pagamento em 30, 45 ou 60 dias. Assim, a saída de caixa se alinha melhor ao recebimento das medições.
- Buscar adiantamentos (quando possível): em contratos privados, às vezes se consegue um valor inicial para custear mobilização e parte dos materiais. Reduz a pressão nos primeiros meses.
- Ajustar o cronograma de execução: se a sequência construtiva permitir, distribua grandes desembolsos em períodos diferentes. Cuidado apenas para não inviabilizar a lógica técnica da obra.
- Monitorar o fluxo de caixa periodicamente: preços, atrasos na obra ou condições externas (frete, clima, etc.) podem mudar suas projeções. Revisões frequentes são fundamentais.
- Planejar contingências: A AACE, aproveitando a menção anterior, sugere manter reservas para riscos imprevistos. Se algum insumo encarecer ou se houver atraso na liberação de uma medição, essa reserva pode evitar um colapso financeiro.
Estão abertas as Inscrições Abertas para a 3ª Turma da Mentoria Gestão Infalível de Obras!
Se você quer planejar, executar e controlar sua obra com método e precisão, a Mentoria Gestão Infalível de Obras está de volta! As inscrições para a 3ª turma estão oficialmente abertas.
Quais problemas vamos resolver ao longo das 12 sessões?
✔ Orçamentos mal validados e fluxo de caixa desalinhado – Como garantir que os custos previstos sejam realistas e que o financeiro acompanhe o ritmo da obra.
✔ Cronogramas que não refletem a realidade – Como estruturar um planejamento exequível e antecipar impactos no prazo final.
✔ Desvios financeiros sem controle – Como utilizar medição de progresso e valor agregado para acompanhar o desempenho da obra e agir antes que os problemas se agravem.
✔ Baixa produtividade e desperdícios no canteiro – Como aplicar conceitos de Lean Construction e Last Planner System (LPS) para melhorar a eficiência da equipe e reduzir perdas.
✔ Riscos subestimados que comprometem a entrega – Como identificar, quantificar e mitigar os principais riscos que impactam custo, prazo e qualidade.
✔ Fornecimento desalinhado e contratos problemáticos – Como estruturar gestão de suprimentos e administração contratual para evitar gargalos e litígios.
✔ Desorganização interna na construtora – Como padronizar processos e garantir que a empresa opere com eficiência, do planejamento à execução.
Se a cada obra você enfrenta os mesmos desafios, está na hora de mudar sua abordagem. Inscreva-se agora e transforme sua forma de gerenciar obras: https://bit.ly/inscricaomentoriagestaoinfalivelobras



